Como surgiu o Stitcher, nossa ferramenta de modelagem 3D de cérebros?

Antes mesmo de iniciar o meu mestrado, ainda em 2019, eu, Kamilla (na época aluna de doutorado) e o prof. Bruno Mota, nosso orientador em comum, nos deparamos com o desafio de estudar cérebros de cetáceos. Apesar das motivações serem diversas, era certa a necessidade de se criar um modelo fidedigno da anatomia do córtex desses animais na forma de um objeto tridimensional computadorizado. Assim, logo antes de ingressar na pós-graduação em física, havia definido que meu tema de pesquisa seria desenvolver uma técnica para estudos de neuroanatomia, especialmente dedicada a golfinhos.

Logo de cara, a opção mais imediata seria utilizar algum software disponível e adaptá-lo para cada uma das espécies que iríamos analisar. Infelizmente, o que havia disponível à época era incompatível com espécies não-primatas e/ou não gerava uma representação realista. Dessa forma, teria que começar do zero, e assim foi feito.

Durante os meus anos de mestrado, adaptei um algoritmo de processamento gráfico para gerar superfícies tridimensionais trianguladas, chamadas reconstruções, de tal forma que obedecesse às leis físicas e biológicas dos cérebros. Surgia, assim, o Stitcher, que viria a ser nossa principal ferramenta de análise num futuro próximo. 

O desenvolvimento do Stitcher foi muito similar ao trabalho de cientista da computação, com centenas de horas acumuladas em frente ao computador escrevendo minuciosamente cada linha de código. Porém, diferente do processo habitual, o Stitcher requer uma rigorosidade científica para gerar resultados, além de parecidos visualmente, acurados em termos matemáticos.

Hoje já temos a primeiro artigo do Stitcher, que descreve o funcionamento da ferramenta, assim como uma apresentação no congresso de neurociência FENS, ocorrido em Viena deste ano. Em breve, um segundo artigo trará uma validação da nossa ferramenta, mostrando justamente a precisão dos modelos corticais reconstruídos tridimensionalmente.

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